
Por Guilherme Paixão
Data: 14 de agosto de 2025
Da internet para o prato: modas gastronômicas geram lucro rápido e atraem novos clientes.
Nos últimos anos, a internet deixou de ser apenas um canal de divulgação para bares, restaurantes e confeitarias, tornando-se também a principal vitrine para o surgimento de pratos virais. Receitas que começam como vídeos caseiros ou posts despretensiosos se transformam, em poucos dias, em verdadeiros fenômenos de consumo, capazes de mudar o faturamento de um negócio em questão de semanas.
O exemplo mais recente é o “morango do amor”, que se espalhou pelas redes sociais e conquistou empreendedores de diferentes regiões do país. Em Florianópolis (SC), Lúcia de Amorim Ferreira, técnica de enfermagem e proprietária da Delícias da Lucinha, decidiu apostar na novidade. “Produzi 30 unidades e vendi tudo em menos de 15 minutos. É trabalhoso e exige cuidados, mas acrescenta muito nas vendas”, afirma. Ela explica que a oscilação na qualidade da fruta e o aumento de custos levaram a uma produção mais pontual, sempre priorizando qualidade e preço justo.
Além do morango do amor, outras receitas já seguiram esse caminho, como a banoffee — torta de origem inglesa feita com banana, creme e doce de leite — que viralizou no Brasil depois de ganhar destaque em vídeos curtos. De uma hora para outra, passou a integrar cardápios de cafeterias, confeitarias e até restaurantes que não tinham tradição em sobremesas.
Do feed para a vitrine: como surgem pratos virais

Pratos virais seguem um padrão semelhante: começam com um vídeo ou foto que desperta desejo imediato no público, gerando milhares de compartilhamentos. Essa divulgação espontânea cria uma corrida dos consumidores para experimentar a novidade. Negócios que conseguem reagir rápido, adaptando operações e estoques, colhem os frutos em forma de filas, vendas aceleradas e maior engajamento online.
Para Lúcia, acompanhar tendências é parte da estratégia. Nos dias em que tem pouco tempo livre, ela aposta em produtos práticos como brownies ou bolos vulcão; quando a demanda e a matéria-prima estão favoráveis, volta a produzir sobremesas virais. “Meu objetivo é sempre a satisfação do cliente, porque doces são poemas que a gente lê com os olhos e saboreia com o coração”, resume.
O apelo visual é determinante para que uma receita ganhe relevância. Quanto mais chamativa for a aparência, maior a probabilidade de se encaixar no consumo rápido de conteúdo nas redes. Além disso, há o fator da exclusividade: muitas dessas criações têm um período limitado de popularidade, o que estimula a compra por impulso e cria sensação de urgência.
Esse efeito não se limita a sobremesas. Petiscos elaborados, hambúrgueres artesanais com ingredientes inusitados, drinques coloridos e até pratos de execução simples, mas com apresentação diferente, já se tornaram virais e atraíram novos públicos para bares e restaurantes. A tendência é que, com o crescimento das plataformas de vídeo, mais receitas sigam esse caminho.
Tendência passageira ou oportunidade duradoura?
O fenômeno dos pratos virais vai além do ganho rápido de faturamento. Eles funcionam como porta de entrada para novos clientes, que muitas vezes retornam para experimentar outros itens do cardápio. Essa estratégia, quando usada com equilíbrio, ajuda a fortalecer a marca e ampliar o reconhecimento digital de bares e restaurantes.
Para empresários do setor, aproveitar essas tendências exige planejamento para evitar desperdícios e prejuízos. O sucesso repentino pode sobrecarregar equipes e logística, tornando necessário ajustar produção, atendimento e comunicação de forma coordenada. “Mesmo depois do auge de uma tendência, o cliente lembra da experiência e associa à qualidade do lugar”, comenta um gestor do segmento.
Outro ponto importante é a adaptação da receita ao perfil do público. Um prato que se tornou popular na internet pode precisar de ajustes de sabor, tamanho ou preço para ter boa aceitação em determinada região. Lúcia confirma que esse cuidado fez diferença para ela. “Meu público é formado por colegas de plantão e moradores da comunidade. Então, mantenho preços democráticos para que as pessoas tenham vontade de comprar sempre”, explica.
Mais do que seguir modas, o segredo está em saber transformar picos de procura em oportunidades de fidelização. Pratos virais podem ter vida curta, mas o relacionamento criado com o público durante esse período pode render frutos por muito mais tempo — e transformar simples modismos em marcos na história de um negócio.
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