Por Guilherme Paixão
Data: 2 de dezembro de 2025
Ambientes imersivos e cardápios inspirados consolidam o modelo temático como tendência no setor
Os restaurantes temáticos deixaram de ser apenas uma curiosidade de nicho. Hoje, fazem parte de um movimento consistente no setor de alimentação fora do lar, impulsionado por um consumidor que busca mais do que comida: quer entretenimento, narrativa e conexão. A estética imersiva, somada a um cardápio que reforça a história escolhida, transformou esse tipo de negócio em um fenômeno nacional.
Esse avanço acontece em um momento de recuperação do próprio setor. A Pesquisa de Conjuntura Econômica divulgada pela Abrasel em novembro mostrou que outubro registrou melhora importante: o percentual de empresas operando no prejuízo caiu de 27% para 20%, enquanto a fatia de estabelecimentos no lucro subiu de 33% para 40%. O Índice Abrasel-Stone também captou um crescimento de 1,6% nas vendas do período. Para a entidade, a retomada do consumo e a recomposição gradual das margens ajudam a explicar o cenário mais favorável, ainda que muitos empresários sigam cautelosos ao reajustar preços.
Uma viagem pela Lei Seca e outra pelo universo dos heróis

Entre os exemplos que ilustram a força do segmento temático está o Capone Drinkeria, em Porto Alegre. A casa recria os bares clandestinos da era da Proibição nos anos 1920, com decoração detalhada, iluminação baixa e até uma entrada secreta atrás de um armário. A ambientação é tão marcante que se tornou parte da experiência desde o primeiro passo dentro do local.
Matheus Agranonik, sócio da casa, conta que o objetivo sempre foi provocar imersão imediata. “Queríamos que o cliente realmente sentisse que entrou em um bar da época. O Capone reimagina aquele ambiente com cuidado e autenticidade.” O cardápio segue o mesmo espírito, com drinks autorais inspirados no cinema e na cultura americana, como o Scarface e o Sicilian Godfather. Para Agranonik, o visual instiga o público a registrar cada detalhe. “Por ser um espaço fora do padrão, os clientes fotografam muito. Isso amplia nossa presença digital e reforça a narrativa da casa.”
Em Goiânia, o Heróis Burger aposta em outro universo: os super-heróis. A hamburgueria combina cenários, estátuas, figurinos e personagens que circulam entre as mesas, criando um ambiente de fantasia que agrada especialmente famílias e crianças. A administração explica que o interesse pelo modelo surgiu ao conhecer a franquia durante uma viagem e perceber o potencial de trazer a proposta para a capital goiana. “Gostamos da ideia e decidimos trazer para a cidade.”
Segundo a equipe, a maior parte do público chega motivada pela experiência, mais do que pelo cardápio. “Recebemos muito mais pessoas interessadas na vivência com personagens. Nosso papel é entregar encantamento.”
Em datas especiais ou durante estreias de filmes, a casa lança edições limitadas de sanduíches e bebidas para manter o clima em alta. A equipe também relata que não é necessário um treinamento formal para lidar com crianças empolgadas, já que essa interação é parte fundamental da proposta. “As crianças estão ali para ser crianças.”
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Desafios constantes para manter a temática viva
Se a estética é um dos grandes atrativos dos restaurantes temáticos, ela também representa um dos maiores desafios. Decorar o espaço uma vez não é suficiente. Manter o ambiente atualizado exige investimento frequente, criatividade e atenção aos detalhes. No Heróis Burger, isso significa renovar peças, cuidar dos figurinos e acompanhar o calendário da cultura pop. A administração admite que o processo é intenso: “Todos os dias enfrentamos desafios. Por ser temático, precisamos manter tudo vivo e atrativo para diferentes públicos.”
No Capone, a preocupação é garantir que a atmosfera continue coerente e elegante. A cenografia precisa ser preservada sem perder frescor, e os drinks devem acompanhar a mesma identidade visual. A experiência completa (da entrada secreta ao último gole) é o que faz o cliente retornar.
Apesar das diferenças de tema, bares e restaurantes desse segmento compartilham um mesmo princípio: a experiência deve ser memorável. A refeição deixa de ser apenas uma necessidade e passa a ser um espetáculo. Por isso, a fidelização costuma ser alta. Famílias, casais e grupos de amigos buscam lugares capazes de proporcionar sensações, não apenas pratos.
O crescimento desse modelo também dialoga com o impacto das redes sociais. Ambientes temáticos naturalmente geram conteúdo e funcionam como cenários perfeitos para fotos, vídeos e publicações. Essa exposição espontânea fortalece a marca e amplia o alcance, criando um ciclo favorável entre fluxo de clientes e presença digital.
Enquanto houver público disposto a viver histórias dentro de restaurantes e bares, o segmento temático seguirá em expansão. E, pelo movimento atual, a tendência é que novos temas, estéticas e experiências continuem surgindo, impulsionando ainda mais a criatividade dentro do setor de alimentação fora do lar.

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