
Por Guilherme Paixão
Data: 17 de julho de 2025
Conheça as quatro cidades criativas da gastronomia do Brasil
Reconhecimento da Unesco impulsiona turismo e valoriza a experiência de bares e restaurantes em BH, Belém, Florianópolis e Paraty
Quando falamos em destinos de gastronomia no Brasil, muitos pensam imediatamente em feiras populares, comidas de rua, botecos famosos ou chefs estrelados. Mas você sabia que quatro cidades brasileiras receberam da Unesco o título de Cidade Criativa da Gastronomia? Trata-se de um reconhecimento internacional concedido a lugares que transformam a cultura alimentar em elemento de desenvolvimento sustentável, valorizando os ingredientes locais, os modos de preparo tradicionais e a inclusão social por meio da comida.
As cidades reconhecidas são: Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Florianópolis (SC) e Paraty (RJ). Cada uma com sua identidade própria, elas provam que o Brasil tem muitas formas de comer bem — e que essa riqueza gastronômica pode se transformar em atrativo turístico, orgulho local e oportunidade de geração de renda.
Mas o que esse título muda na prática? Para o morador ou para o visitante, significa encontrar uma cidade que valoriza seus ingredientes regionais, suas tradições à mesa e sua hospitalidade. Significa vivenciar experiências gastronômicas que contam histórias — e, muitas vezes, memórias.
Belém: gastronomia ancestral que encantam o mundo

Primeira cidade brasileira a receber o título, em 2015, Belém representa a Amazônia na lista da Unesco. E faz isso com força. Segundo Rafael Barros, proprietário do restaurante Amazônia na Cuia, o principal atrativo para os turistas que chegam à capital paraense é, sem dúvida, a culinária local. “Eles querem provar a maniçoba, o açaí puro, o tacacá… E ficam encantados. Muitos não sabiam que existia um açaí sem açúcar, com farinha, por exemplo”, conta.
Para Rafael, os pratos típicos contam mais do que sabores: contam histórias. “A gente fala de quem planta, de quem colhe, das influências indígenas. É uma viagem sensorial, mas também cultural”, afirma. Desde o anúncio da COP30, o restaurante viu o número de turistas crescer — atualmente, eles representam cerca de 55% do público. “Muitos estrangeiros chegam por causa do título da Unesco, temos até cardápio e equipe em inglês”, explica.
Quando questionado sobre qual prato representa melhor Belém, Rafael é direto: maniçoba. “Tem muito afeto envolvido. Eu esperava o ano todo para comer a maniçoba da minha avó no Círio. São sete dias de preparo, aquele cheiro invadindo a casa… é memória pura.”
Belo Horizonte: uma capital onde Minas se encontra
Na capital mineira, o reconhecimento veio em 2019, após uma articulação que envolveu prefeitura, empresários, entidades e festivais gastronômicos. Ricardo Rodrigues, dono do tradicional restaurante Maria das Tranças e ex-presidente da Abrasel em Minas Gerais, foi um dos nomes por trás do dossiê apresentado à Unesco.
“Na primeira candidatura, Belo Horizonte não conseguiu o título. Na segunda, houve uma mobilização geral. Foi muito bonito ver a cidade inteira unida pela gastronomia”, relembra Ricardo, que acompanhou todo o processo.
Para ele, a comida mineira tem força própria, que ultrapassa fronteiras. “Me perdoem as outras gastronomias, mas a mineira é inconfundível. É base para muitas outras do país”, diz. O título da Unesco, segundo ele, ajudou a colocar BH de vez no mapa do turismo gastronômico internacional. “Hoje, recebemos visitantes que vêm exclusivamente por causa da comida.”
No Maria das Tranças, o frango ao molho pardo é o prato que mais traduz a identidade do lugar. “É uma receita da minha avó. Mantemos o mesmo sabor há 75 anos. Quando um cliente diz que está igual ao que comia 30 anos atrás, a gente sabe que fez a coisa certa”, afirma, emocionado.
Florianópolis: mar, terra e tradição no prato
A capital catarinense entrou para a Rede de Cidades Criativas da Unesco em 2014, com foco na valorização da cultura açoriana, da pesca artesanal e da relação profunda entre natureza e alimentação.
Quem visita Florianópolis encontra desde ostras frescas servidas à beira-mar até pratos com ingredientes nativos da Mata Atlântica. A gastronomia local une tradição e inovação, com iniciativas voltadas à sustentabilidade, ao turismo responsável e à valorização da cultura regional. Floripa, como é carinhosamente chamada, é também polo de chefs criativos que exploram ingredientes como taioba, butiá, pinhão e frutos do mar em receitas contemporâneas.
Paraty: o sabor do patrimônio e do território
Paraty, reconhecida em 2017, é a única das quatro que une o título de Cidade Criativa da Gastronomia a outros reconhecimentos da Unesco, como o de Patrimônio Mundial. No pequeno e charmoso município do litoral fluminense, comer é mergulhar na história da cana-de-açúcar, da cachaça, da banana, da pesca e da herança afro-indígena.
Além de seus restaurantes e festivais gastronômicos, Paraty aposta no fortalecimento das comunidades caiçaras, quilombolas e indígenas, promovendo eventos e feiras que misturam sabores, saberes e tradições. É comum encontrar pratos como moquecas com banana, caldos de frutos do mar e doces feitos com mandioca, todos preparados de maneira artesanal.
Comer é conhecer — e valorizar
O título da Unesco é mais do que um selo: é um compromisso. Para estar entre as Cidades Criativas da Gastronomia, os municípios precisam desenvolver políticas públicas, investir na formação de profissionais, promover a agricultura familiar, estimular a inovação e garantir acesso à cultura alimentar como um direito.
É um processo contínuo que exige planejamento, mas que transforma a experiência de quem mora e de quem visita. Para quem ama bares e restaurantes, saber que está em uma Cidade Criativa da Gastronomia é um convite à curiosidade e à valorização do que é nosso.
A gastronomia brasileira é múltipla, diversa e riquíssima. E nessas quatro cidades, ela encontra palco e aplauso. Se você ainda não conhece Belém, Belo Horizonte, Florianópolis ou Paraty com olhos (e paladar) atentos ao que elas têm a oferecer, talvez esteja na hora de planejar sua próxima viagem — com uma boa mesa como destino.
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