Por Guilherme Paixão
Data: 18 de dezembro de 2025
Praticidade, afeto e comida bem feita explicam por que cada vez mais pessoas escolhem encomendar a ceia de Natal em bares e restaurantes
Dezembro costuma chegar acompanhado de uma mistura conhecida para quem frequenta bares e restaurantes: vontade de celebrar bem, mesas disputadas e o desejo de aproveitar o fim de ano sem passar horas na cozinha. É nesse contexto que alternativas como oferta de ceias prontas para o Natal passam a ganhar espaço, especialmente em um momento em que 81% dos empreendedores esperam aumentar o faturamento em relação ao mesmo período do ano passado, segundo Abrasel.
A estratégia atende a um movimento cada vez mais comum entre consumidores: celebrar com menos trabalho e mais tempo de convivência. Em vez de assumir toda a preparação da ceia, muitas famílias optam por encomendar pratos prontos, pensados especialmente para a data, e transformar o Natal em uma experiência mais leve, confortável e prazerosa.
Para os restaurantes, a iniciativa amplia a presença da marca além do salão. Para o cliente, representa praticidade, previsibilidade e a possibilidade de levar para casa pratos assinados por estabelecimentos que já fazem parte da sua rotina ao longo do ano.
Mudança no comportamento de quem consome no fim de ano
A tradição de passar horas na cozinha preparando a ceia já não representa a realidade de muitos lares. Esse movimento aparece com clareza na fala de Vitor Velloso, sócio-proprietário do Pacato e do Pirex, em Belo Horizonte.
“Com a mudança da pirâmide etária, é cada vez mais comum que casais jovens fiquem responsáveis pela ceia. Muitos não têm a prática gastronômica das gerações anteriores, e buscam soluções que tragam segurança e qualidade”, explica.
Segundo ele, a escolha pela ceia pronta não diminui a importância da data. Pelo contrário: mostra uma nova forma de celebrar, em que o foco deixa de ser o trabalho e passa a ser o encontro.
Essa leitura também é compartilhada por Miguel Valente, sócio-proprietário do restaurante Amassa, em Belo Horizonte. Para ele, embora o público seja diverso, o desejo é comum.
“Temos desde jovens casais, que buscam praticidade e uma proposta mais contemporânea, até famílias mais tradicionais, que valorizam uma ceia bem executada, com técnica e sabores clássicos”, afirma. “Muita gente quer uma ceia de qualidade, mas não tem tempo, habilidade ou logística para preparar tudo.”
Foi a partir dessa percepção que os restaurantes passaram a estruturar cardápios específicos para o Natal. No Pacato, a aposta recai sobre pratos mais elaborados. No Pirex, os petiscos ganham protagonismo. Já o Amassa oferece opções de massas artesanais, alinhadas à identidade da casa.
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Quando o restaurante entra na casa do cliente

Mais do que resolver a ceia, a oferta de pratos prontos amplia a relação entre restaurante e consumidor. Ao encomendar a ceia, o cliente leva para casa sabores, técnicas e escolhas que já conhece do salão, agora inseridos em um momento simbólico do calendário familiar.
Esse movimento reflete uma tendência mais ampla do setor de alimentação fora do lar: criar novos pontos de contato com o público além da experiência presencial. Em vez de depender exclusivamente da mesa no salão, bares e restaurantes passam a ocupar espaço também na rotina doméstica dos clientes.
Essa lógica dialoga com o conceito de “Catch the Clients”, defendido pela especialista em branding gastronômico e fundadora do Food-se, Vanessa Huguinin. Ao pensar estrategicamente a ceia pronta, o restaurante entra simbolicamente na casa do consumidor. Nesse contexto, o momento de consumo deixa de ser apenas alimentar e passa a assumir um papel emocional, ritualístico e afetivo.
Para quem encomenda, existe um valor adicional em escolher um restaurante de confiança para um dos momentos mais importantes do ano algo que fortalece o vínculo entre cliente e marca.
Previsibilidade para o restaurante, conforto para quem consome
Do ponto de vista do consumidor, a ceia pronta oferece tranquilidade. Horário definido, cardápio conhecido, porções planejadas e menos preocupação com compras, preparo e limpeza. Para quem recebe convidados, a solução garante mais tempo para aproveitar o encontro.
Para os restaurantes, o modelo permite organizar a produção e concentrar esforços em um produto específico. No Pacato e no Pirex, Vitor Velloso destaca que essa organização também impacta positivamente o resultado do negócio.
“A margem da ceia é melhor do que o serviço regular por ter alto aproveitamento, baixa perda, e sem ter as incertezas do serviço de salão. Por isso mesmo ela tem o potencial de complementar bem o resultado de final de ano”.
No Amassa, a produção de pratos prontos já faz parte da natureza do negócio. No Natal, porém, a procura cresce de forma significativa. Miguel Valente observa que a data amplia a visibilidade da casa mesmo em um período sem atendimento presencial.
“No fim, a ceia se torna um canal adicional que incrementa o faturamento, otimiza a produção e amplia a presença da marca na casa dos clientes”, afirma Valente.
A ceia como ponto de partida para novas experiências
Para muitos consumidores, a ceia de Natal funciona como o início de uma relação mais frequente com o restaurante. No Pacato e no Pirex, Velloso observa que grande parte das encomendas parte de clientes habituais, que já conhecem o padrão da casa e escolhem “levar o restaurante” para um dos momentos mais importantes do calendário familiar.
No Amassa, Valente reforça que ampliar a presença da marca na casa do cliente vai além da data festiva. Ao fazer parte da rotina doméstica, o restaurante deixa de ser apenas um destino ocasional e passa a ocupar espaço no dia a dia do consumidor.
Na prática, a ceia ajuda a construir um vínculo que não se encerra em dezembro. Clientes que confiam a ceia de Natal a um restaurante podem considerar a mesma marca para outras datas comemorativas, celebrações corporativas ou mesmo para o consumo recorrente de pratos prontos ao longo do ano.

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