
Por Guilherme Paixão
Data: 1 de agosto de 2025
Espaços antes dedicados apenas ao café agora recebem aniversários, brunchs e eventos culturais, refletindo a busca por experiências mais leves.
Por muito tempo, celebrar significava esperar a noite chegar. Festas começavam tarde, embaladas por música alta, drinques alcoólicos e programações que terminavam na madrugada. Mas essa lógica vem mudando. Aos poucos, cafeterias de todo o Brasil estão ganhando protagonismo como novos pontos de encontro para quem quer comemorar, socializar e viver experiências em horários mais leves.
O movimento dialoga com transformações no comportamento do consumidor. Mais atentos à saúde e à qualidade de vida, muitos clientes têm buscado programas diurnos e momentos de lazer com propósito. A pesquisa mais recente do grupo HSR Specialist Researchers mostra que 36% dos jovens da Geração Z consomem álcool apenas uma vez por mês ou menos, e 88% afirmam estar dispostos a reduzir ou abandonar o consumo. Com hábitos diferentes de gerações anteriores, esse público abre espaço para novas formas de lazer — e o café, antes coadjuvante, agora entra em cena como protagonista.
Cafeterias como espaços de convivência
Em Natal (RN), Rodrigo Coutinho, à frente da rede Barões do Café, acompanha de perto essa transformação. Presente em shoppings e centros comerciais, ele percebe que a cafeteria deixou de ser apenas um lugar de consumo rápido para se tornar um ponto de encontro social e até de trabalho.
“Vejo muita gente que vem para lazer e social, para sentar com amigos e compartilhar uma parte da manhã ou da tarde. Também temos muitos clientes que usam o estabelecimento como extensão do trabalho, com notebook e reuniões informais”, explica.
Segundo Rodrigo, a mudança de perfil do público é visível. Se antes quase ninguém falava em cafés especiais ou métodos diferenciados de preparo, hoje cresce o número de pessoas interessadas em experiências sensoriais. “Ainda não é a maioria, mas já existe um público que busca esse diferencial e entende que a cafeteria pode oferecer mais do que uma bebida: ela entrega uma experiência”, afirma.
Essa percepção reforça a ideia de que as cafeterias são, cada vez mais, espaços de convivência. Para Rodrigo, essa transformação é estratégica para o setor de alimentação fora do lar. “O ticket médio de uma cafeteria é menor que o de um restaurante. Por isso, é essencial fazer parte do dia a dia do cliente. Quando o lugar vira um espaço de convivência, o cliente volta mais vezes e se conecta à marca”, avalia.
Brunchs, miniweddings e eventos culturais
Seja em São Paulo, Belo Horizonte ou Natal, eventos diurnos em cafeterias começam a chamar atenção. Brunchs com música ao vivo, workshops, lançamentos culturais e até pequenos casamentos já ocupam ambientes que antes eram dedicados apenas a mesas discretas e xícaras de espresso.
Em algumas cidades, surgem até as chamadas coffee parties, festas diurnas em que o café substitui o open bar alcoólico e a playlist intimista ou um DJ com som lounge ditam o clima. “Aqui em Natal já vimos estabelecimentos que fizeram eventos assim e foram um sucesso. Nas minhas lojas em shopping é mais difícil viabilizar, mas é algo que já pensamos em fazer em espaços menores e externos”, conta Rodrigo.
Além dos eventos próprios, as cafeterias também começam a participar de parcerias com corridas de rua e encontros culturais, levando bebidas de qualidade para públicos que buscam experiências mais saudáveis e marcantes. A integração com bares e menus híbridos também aparece como tendência. “Vejo uma oportunidade enorme para este tipo de empreendimento que queiram oferecer drinques com café e explorar parcerias com torrefações locais. É um caminho natural para diferenciar a experiência do cliente”, diz o empresário.
Mais do que moda passageira, esse movimento revela uma mudança de mentalidade no lazer urbano brasileiro. Menos ressaca, mais conexão. Menos madrugada, mais manhãs memoráveis. Sob a luz do dia e com aroma de café, celebrar nunca pareceu tão simples — e tão convidativo.
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